terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ouvi dizer...

        Não coleciono muitas histórias como gostaria mas ouço as que me contam com atenção redobrada, quero aprender com isso a ver a vida sobre outros ângulos, em versões diferentes.
       Existem autores que primam nas suas obras ao apresentar sua versão dos fatos, em relatos minuciosos. Eu tenho a minha opinião sobre muitas coisas, mas entendo que cada um na sua experiência na vida, também precisa falar o que quer e o que pensa das coisas; difícil mesmo é ouvir e ter humildade para aprender...
       Desde pequena, quando morava em Laranjal Paulista, bem próxima do asilo, onde estavam os melhores contadores que conheci, aprecio uma boa história, vibro quando as pessoas começam a falar e suas vozes vão se alterando, riem e até choram ao contar os fatos que marcaram suas vidas.
      Hoje quero poder deixar livre as minhas lembranças, para falar das histórias que ouvi, de pessoas que conheci, e talvez fazendo jus a elas, tenha encontrado o meio de divulgar algumas coisas boas pra quem quiser conhecer outra versão que não seja a sua, do mundo e das pessoas.



       Ouvi dizer: numa pequena cidade, veio trabalhar como policial, um homem pacato de pouco falar; muito respeitado, era a autoridade do lugar...  Tinha por costume caminhar pelo meio da rua brincando com um palito entre os dentes. Um dia alguém teve coragem em perguntar o porque não caminhar rente as lojas e casas, porque escolhia o meio da rua?  Ele respondeu:
" -É pra ninguém me incomodar; e o palito? é pra não poder falar ."



        Ainda ouvi dizer, de um outro homem que casou com uma mulher muito brava, que gritava e reclamava dia e noite, noite e dia, da casa e do marido. Infeliz a esposa e feliz o marido que passava na lojinha e comprava um batom bem vermelho, destes baratinhos depois caminhava tranquilamente para o outro lado da cidade, e quando lhe perguntavam:
" -  Pra onde tá indo?" Ele respondia sorrindo:
" - Tô indo pra onde me chamam de: meu bem..."



       Ouvi dizer, de uma mulher trabalhadeira e muito conhecida em sua cidadezinha, todos a respeitavam e conheciam sua franqueza; de todos os seus filhos, um escolheu ser político. Ele não pediu o apoio da mãe, coisa que o outro candidato fez. O filho não foi eleito e reclamou pra mãe a falta de apoio por parte dela. Ela respondeu :
 "- O Seu Fulano é meu conhecido, trabalhei pra família dele; ele mesmo veio conversar comigo e pedir minha ajuda, e você?   Meu filho, quando você escolheu ser político, nem veio falar com sua mãe, saiba que não basta  dizer de quem é filho. Todos conhecem você e me conhecem também, sabem que eu só ajudaria: o melhor. "



    Ouvi a seguinte história: uns amigos se reuniram para relembrar o passado; homens maduros, riram e lastimaram das lembranças do tempo em que eram jovens; comeram e beberam; na hora de se despedir foram levar o mais velho e debilitado,  que já não andava com facilidade, pra casa que ficava longe do centro. Era inverno e aquela noite parecia ser a mais fria do ano. Ao chegarem na casa do Fulano, vendo que ele estava pouco agasalhado e temendo por sua saúde, falaram que deveria entrar, no que o ajudariam. Ele recusou ajuda e não queria entrar, insistiram e nada.
"- Por que não entra tá frio demais?"
" -Podem me deixar aqui mesmo nesta cadeira...matei muita Curruíra e Pardalzinho...quando morrer quero ter certeza que já paguei meus pecados aqui mesmo e que vou pro céu."



Ouvi dizer tantas coisas...